quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Cidade



Querer-te é querer a pertença que representas,
eu, que não me sinto de nada.
Eu sei que a noite se põe na alma para lá das palavras
 mas são estes os pedaços de silêncio cintilante
que nos expulsam e nos tomam por garantidos
quando a cidade me penetra o útero
e me deixa a lamber as crias
tu és o vento nas veias da calçada.
Uma palavra erudita durante uma refeição barata.
Eu quero ser esta retórica firme dos teus gestos,
o aroma quebrado de um sol de Inverno em Lisboa.
Entre o número dos dias está o fantasma que me sonha
 nele se entrelaçam as mãos de pedra da agitação das ruas.
Os reflexos azuis da demora,
a adrenalina dos segredos.
Quando escreverem a minha biografia
vão falar de ti.