Queria falar-te de mim como se o mundo me coubesse dentro dos órgãos
Mas o espaço está confinado aos sons
Nenhum vestígio de compaixão na desilusão.
Porque esta é a minha noite e nunca será a tua
Sabemos muito pouco uns dos outros
E esta é uma era sem nome.
E a noite enregelou o pânico, deixando-nos sem propósito.
Trazemos gritos que nos pendem da idade
e acredito que me deixas verdadeiramente quando danço
Porque já me tinhas deixado quando deixaste de acreditar
nos rituais tribais dos deuses televisivos
Acredito que nada existe para além de mim
e sou um nada infinito
preso à retórica
ou ao paladar melancólico que a arrogância nos deixa na voz
Porque a raiz da minha carne vem da terra,
da sabedoria mais silenciosa do mundo.
Aqueço-me com a febre misteriosa dos teus ossos de defunto
vestidos com os trajes grotesco da liberdade.
Trago um suicídio de prata a reluzir nos diálogos e sinto-me tão próxima de ti como de todos
Numa distopia terminal que explode nos nervos
num bacanal menstruado
sinto o poder mitológico da criação a trepar o sangue
E trago os destroços
dos deuses nos quais costumávamos acreditar
num desejo incontrolável de possuir o erro que sou.