Tudo o que escrevo são esboços e tudo o que digo são buscas cansadas de inimigos que nunca se apresentam
Tento alicerçar os olhares estrangeiros para que todo o tipo de indiferença seja devidamente canalizada
Para um lugar mais próximo de algo compreensível
Porque só consigo dormir sobre a segurança vadia da exaustão
E tudo o que ouço são estilhaços matinais do meio-dia da tua vida plantada sobre os tendões mastigados dos meus poemas
Só te posso pedir para que venhas e te aproximes da lua enquanto nenhum hábito se propaga pelas expectativas ultracongeladas que derretem
num Verão apressado de um ano em que nunca vivemos.
Escoamos tão apressadamente como uma batida electrónica oitentista escoa
Para um medo desaproveitado
E para quê deixar o medo desaproveitado?
Nunca nos chegaremos a conhecer porque nunca se chega a conhecer ninguém
por isso abraça-me como se não fossemos acordar outra vez sem nome
porque sabemos que no dia a seguir tudo será estrangeiro novamente mas por breves instantes
por breves momentos parecemos comunicar e os dias tão pálidos como estas letras
e o horizonte tão ruidoso e a música que quiseste que eu ouvisse
fica aqui como banda sonora do nosso esquecimento.