Não te quero outra vez adormecido no meu silêncio.
Os dias vão infiltrar-se de qualquer forma pelas fissuras dos medos
e hoje é mais sábado do que ontem
por isso não te quero a pernoitar nas esquinas do meu corpo
porque já não sei onde é que isso fica.
Tens um chapéu engraçado que trouxeste daquela viagem
e eu consigo ver que sorrias da mesma maneira inclinada
não me julgues mal, apenas tenho esta vontade de te cravar duas ou três palavras
entre os poros
só para que tenhas a certeza que hoje sou capaz de não aparecer outra vez
para te segurar a respiração escorregadia e o bronzeado irregular
sou capaz de não te ranger a cama com o meu desespero
e de me destilar até me confundir com o teu exibicionismo
porque só nos resta a eternidade azedada que acompanha o texto
e a fome arrefecida entre os dedos,
o calor com o qual os olhos nos arderam a lascívia.