quinta-feira, 1 de setembro de 2011

trip



Quando nos despedimos era como se
Nos voltássemos a ver por dentro algures numa dimensão de vísceras
E sangue e órgãos que não sabíamos existir
Era como uma volta carregada de pus
E de álcool adormecido no desejo
Os nossos quartos seriam contos de um livro qualquer que nunca chegámos a escrever e quando nos voltássemos a ver seria como uma nuvem de um charro que não fumámos na totalidade
Mas o que realmente é relevante são as nuvens e o céu que nunca deixou a cor púrpura
Como que inspirado nos nossos casos clandestinos
Como que enfiado ele todo dentro de nós
O céu todo no espaço onde nos falha a explicação
No espaço onde tropeçamos sem ter a certeza se caímos ou se continuamos a levitar
Na linha que separa o mundo da mentira e a vontade da doença
Quando dos despedimos era um rio que nos escoava dos olhos
Para desaguar em qualquer coisa nefasta,
Numa vodka cancerígena que nos forrou as palavras
Numa fala ensanguentada com a qual construímos todos os muros que circundam a nossa língua
E que nos deixam sempre do lado de lá.