contar serpentes é uma forma de exercitar a flexibilidade
dos desejos,
é como deixar as palavras apodrecerem
por falta de apetite
e depois culpar o tempo.
é ter deuses enferrujados em cima de estantes rachadas.
contar serpentes é derramar carícias sobre feridas
e pensar sempre em modo de sorriso
sem nunca sorrir.
é dispor de uma anestesia poderosa
que tempera o sangue e lhe dá textura.
é como atravessar o dia com o paladar doce das insónias a fervilhar na língua.
porque cada um dos meus pecados ilumina uma parte do mundo
e eu não quero que me falhe a luz.