segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fotografia


há uma fotografia colada à minha paisagem
com solidões chuvosas e carícias de plástico rosa choque
é onde estás também mas se te escrever neste poema
terei de pagar pelo teu nome.
não te preocupes comigo, tenho a voz protegida das visões
e cigarros pousados nos mais sossegados mistérios
dos planetas
porque o nosso planeta é um mar de mel que uma abelha aleatória cuspiu
e os espelhos assam todos os sorrisos embebedados
e cada olhar internado nos hospitais silenciosos
do pecado.
trago o meu país tatuado na camada mais profunda dos olhos
e o meu mundo atravessado no néon bolorento de cada rumor.
comprei uma revista barata onde vinhas a mostrar a tua casa escancarada e a tua cara escancarada
a tua casa adolescente vergada para dentro do teu anonimato menos sombrio.
nesta revista abrias o teu abandono com um bisturi publicitário
deixavas que câmara vagarosamente iluminasse a tua roupa interior
 cintilante de vícios,
vícios fluorescentes que te crescem para dentro da carne.
e havia vozes escuras e felicidades miudinhas coladas aos poros
e paixões rabiscadas sobre mortes aguadas.
a tua fotografia entalada nas ancas
parava a minha digestão.