quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

volta e meia



porque volta e meia lá vamos dar ao mesmo assunto
eu bem queria fugir dos clichés
como os do carvão que ficou do jantar de ontem à noite
na esquina barulhenta da metafísica
mas o que acontece é que as ruas estão demasiado espessas ultimamente
com tanta piedade pendurada nas rugas dos pensamentos
que não se decidem a morrer,
que se metem nas camas dos hospitais em estado de coma e quase deixam o estado em coma
e que não saem de lá nem para uma miragem de madeira ou de outro tipo de material natural
que fica sempre bonito nos móveis de uma decoração moderna
mas lenta
daquelas modernas que demoram mais um bocadinho
um bocadinho mais do que uma coluna de opinião num tablóide.
eu não tenho intenção de andar em círculos mas os círculos andam em mim
em forma de veneno sofisticado que nos faz parecer mais
que nos faz parecer mais
mas que não tem objectivo definido
apenas preservar as tradições que é como quem diz cristalizar o olfacto
e cristalizar o tacto e tantos outros sentidos que desconhecemos e que
provavelmente nunca nos vão nascer
como as caudas
porque a criatividade é assim uma coisa que tentou cometer suicídio num dia chuvoso
mas que acabou por se recostar em frente às estatísticas que nos dizem
quantos idosos faleceram a ver a Praça da Alegria.