a viagem foi um corredor estreito onde cresceste
e agora a tua identidade é uma espécie de alívio obsessivo
com o qual todos fantasiam.
mas deixa-me pôr as coisas nestes termos,
quando te espreito pelas frinchas da persiana
e estás semi-nu e amanhece e ainda ninguém adormeceu
e há lábios cintilantes nas pontas dos enganos
tens a certeza que a terra não se tenta suicidar
com a música sísmica dos teus gestos?
porque afinal são os dedos do meu desejo
a recuar perante os acidentes que me irrigam os poemas.
e há rumores trémulos que flutuam nas memórias indecifráveis.
afio os dentes no sonho, ausento-me por dois segundos
e o mundo deixou queimar o teu rosto
e podemos fugir
para um aborrecimento melhor do que este.