terça-feira, 12 de janeiro de 2010

eu e os meus amigos



eu e os meus amigos estamos todos a beber
e há pedras perigosas
que se alastram pelas veias fluorescentes
das horas.
os meus amigos têm rostos amargos
ouvem música confusa
música com mel
que desagua num oceano eléctrico de guitarras
alguns acariciam a pele raspada da noite
alguém responde a uma sms perdida nos confins da despedida
alguém se perde no azul frio da noite
e o álcool rubro das palavras escoa
no sentido inverso aos ponteiros do sono.
os meus amigos estão enleados a sorrisos de enxofre
e há fotografias de tinta
cravadas no pânico dos desejos
e há libidos de cetim a iluminar a inteligência nómada
e há casas temporárias que imitam a saliva das lâminas
lâminas lambidas por paredes canibais.
festas adocicadas, festas de pólvora
que acabam por explodir em ecrãs aleatórios.
os meus amigos
e os seus olhos líquidos, os seus olhos esquecidos no fogo
de todos os amantes clínicos
de todos os amantes patológicos
o vento murcho a crepitar pelas alucinações
a festa, os amigos
e este ligeiro odor a penumbra
e este ligeiro insecto
agarrado aos ombros do silêncio,
o silêncio que sangra.
a sujidade plastificada
rumo às estratégias ambulantes
estratégias fulgurantes,
traçadas na libido peregrina.
todos os meus amigos prisioneiros da liberdade
ancoram em ilhas de desejos dilacerados
em filmes indecisos
a escancarar as portas da lucidez
a invadir os líquidos que crescem para a luz
a luz que devora todas as dores.
e alguém se isola na escuridão de um nome
e se esvai em juventude
e alguém grita um grito demasiado tenebroso
mas festivo, ainda assim, festivo
e os meus amigos embebidos em álcool
pousam nas minhas infecções.
os meus amigos e a sua respiração aflitiva
e as suas gargalhadas-sirene e os seus raciocínios montanhosos
e as suas intrigas esplendorosas
e o brilho do seu desespero
e o vagaroso brilho dos seus desesperos.