quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

que nos espia


olho por cima do papel
vejo uma sonolência no canto da tua morte
mas quem quer saber?
cada sílaba é vitima da sua claridade.
as manhãs reencontram o seu desassossego.
esperamos de óculos escuros, encostados a postes de cinismo
na boca, a temperatura salgada
de cada rosto que nos cumprimenta
ou que não nos cumprimenta mas sabe quem somos porque
temos o facebook cheio de dedadas
e é na humidade da inocência que alimentamos a cusquice com orgulho
como quem alimenta um sonho esfarrapado,
um sonho delgado e azedo mas, ainda assim, um sonho.
e recordo os nevoeiros que pousaram em torno dos teus gemidos na noite passada
e o vinho macio que nos toldou a capacidade de pensar
mas será mais um exame-ressaca,
um exame à nossa ressaca
e vamos ao encontro do doutor com o pólo dos anos oitenta que nos examina a condição
e nos chumba com um profundo cansaço
um cansaço tão oxidado como os seus valores apedrejados
e que nos espia a morte sem nos dizer nada
sim, que nos espia a morte.