sábado, 23 de janeiro de 2010

Sensação de pertença



canto-te,
a minha voz desidrata o teu sorriso melancólico
que se estende até ao olhar arrefecido.
ninguém nos pediu para abandonarmos a pista
nem mesmo quando a saudade iluminou os gritos
e o vento visceral da vodka se cravou nas sombras.
o cântico não traz nada de novo:
música diluída em fumo,
pedaços de música mastigada
música esfarrapada que nos entope as veias
do cérebro.
pedimos ao dj que abandonasse os nossos espectros interiores
no pólen embriagado do tempo
num espaço incompreensível
entre o silêncio e o corpo.
hoje é sábado ou será já domingo
e tudo o que sei é que há uma sabedoria a forrar
o interior do esquecimento
e o esquecimento é tão flexível
como a argila que escorre dos medos.
as feridas da noite jorram veneno
para o interior da minha dança.
a minha dança é um espectro, e tu danças com o meu espectro
a vertigem agarrada aos saltos
para não cair
e esta sensação de pertença a um medo maior do que eu
a um vómito maior do que eu,
esta sensação de pertença.