ninguém
te viu como eu te vi,
um
sobressalto de sangue,
uma
tradução nebulosa
um
poema escrito no metro em direção a Odivelas
isto
porque eu sei que ninguém te escreveu
ou
contemplou a enfermidade
que
trazes esculpida na alma
talvez
porque mais ninguém traz letras suficientes
na
boca,
talvez
porque te pareças com uma ave ferida
pela
pós-modernidade,
e
o meu instinto é demasiado solto
na
tua postura muito reta
na
gravata inesperada aos trinta
toda
a tua invisibilidade relata
a
semiótica do sucesso.
no
teu fato construído com a paciência neoliberal
que
tanto dizes apreciar
enquanto
secretamente querias passar os dias
comigo
e uns gramas de marijuana.