as manhãs primitivas
queimam o sono
e a febre crepita pela parte mais vertical das palavras.
o teu dedo sobre o meu nome faz uma pressão insuportável
e há um espasmo que percorre este texto
enquanto o inferno nos nasce lentamente no peito
como uma cobra a rastejar junto às cavidades inseguras das horas.
dos livros soltam-se faíscas
e as fogueiras cicatrizam com urgência cada respiração menos voluntária
mas há designações menos doces que outras
e há sílabas que se propõe a tentar vibrar
até ao centro da mais funda inocência.
in O Sono Extenso, Âncora Editora