segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

não, isso não dá, não vai dar



não, isso não dá, não vai dar
assim não pode,
olhe, não me pagam para isto, sim?
e hoje acordei tarde, vim directamente do ciclone
que me atravessou os dedos quando vestia o casaco esmurrado
que levei a uma enfermeira anestesiada que me enfiou numa sala de espera
e me disse aguarde cinco minutos, o desespero vem já
e só tive tempo para um bocado de leite amargo
que trazia nos nós das sílabas.
sílabas que não tive tempo de pronunciar
e que deixei nas bermas das estradas a sangrar até que morressem
e assim criei uma nova linguagem e uma nova língua
que é mais pequena que as outras e mais espessa
e que pode ser enfiada em vários tipos de orifícios cortantes
que consegue sempre saborear o rico paladar do absoluto nada.
e quanto à sua questão, não vai dar
como lhe disse
não firmou um contracto?
não leu as letras pequeninas cravadas a fogo no céu?
no céu da sua inconsciência, ora essa.
diga-me uma coisa, o senhor já falou com algum dos nossos animais glaciares
que estão ali pendurados à entrada da memória?
eles podem verificar a sua conta e dizer-lhe desde já de que cor é o a sua noite
e a quantos metros está a sua demência do chão.
olhe eu é que não lhe posso fazer nada. passe bem, sim?