domingo, 22 de março de 2015

Ode à Adolescência

"Bleeding animals in a field of fire 
There is no absolution 
Death is but a fairytale 
They are mere visions 
They are afraid of me"


Ao João Bosco da Silva


hoje a tecnologia respira-nos a presença,
a loucura ao lume
numa parte incerta deste silêncio transnacional
onde o nosso diálogo é contínuo.
dantes, o corpete cor de vinho e o vinho como um rumor,
os pulmões queimavam já os cigarros precoces.
dantes, o teatro da tragédia e os palcos inacessíveis.
digamos: caí na adolescência como numa emboscada,
uma sobrevivência serena junto a um existencialismo incansável;
como um Nietzsche convocado no cemitério
ou Opeth no hardclub com o resto dos poetas.
uma rosa a Baudelaire e outra a Sartre
como prioridade na viagem de família a Paris.
todas as manhãs eram a continuação da noite
e todas as noites, minto, a tecnologia respirava presenças
já na altura.
era esta virgindade exausta que habitava o poema
inventava narrativas lubrificadas
inventava-te em lábios por estrear
queria a tua morada
sem saber se existias
e ainda assim escrevia-te, descrevia-te
e a fome sorria
enquanto alguém batia punhetas dolorosas
à custa do meu desprezo.
hoje a tecnologia respira-nos a presença
e eu na altura

a madrugada para a qual acordavas todas as manhãs.